UMA DECISÃO
Por Sírio Possenti, em 03/04/2014 Disponível em:
http://terramagazine.terra.com.br/blogdosirio/blog/2014/04/03/uma-decisao/ Acesso em 20 de abril de 2014
Há 15 anos, ou mais, decidi que tentaria escrever sobre
linguística em jornais ou onde conseguisse, fora da
academia (a internet quebrou meu galho, depois de algum
tempo). Pensava, como penso, que a língua é um objeto
crucial tanto para o simples conhecimento (muitos acham
que a curiosidade é uma característica humana, tese em
que acredito cada vez menos) quanto para a educação,
entre outras questões.
Pertenço a um grupo que trabalhou duramente, escrevendo
e dando cursos, para atualizar currículos escolares no
Brasil, coisa que foi feita pela metade – o que não é pouco
para um país conservador, cujas “elites” nunca leram uma
gramática. Estão longe de ter lido pelo menos tópicos
elementares (verbetes de enciclopédia, por exemplo) sobre
linguística geral, sociolinguística, psicolinguística,
pragmática, teorias do texto e do discurso etc.
Ao contrário do que muitos pensam, não se trata de
introduzir teses de esquerda nas aulas de português, mas
de introduzir teses que não sejam medievais sobre a
realidade linguística mais banal e propor um tratamento
escolar dos fatos de forma a facilitar o domínio da chamada
norma culta. Portanto, é um projeto que poderia facilmente
ser chamado de conservador. Só a ignorância elementar
pode acusar estas teses de serem, por exemplo, de
esquerda. [...]
Talvez só Steven Pinker possa concorrer com Saussure em
sua quase irritação com certa idiotice dos “sábios”.
Criticando duramente os colunistas de plantão que bradam
contra a decadência da língua (também os há nos Estados
Unidos!), Pinker profere a seguinte imprecação: “Eu digo a
eles: Maven, shmaven! Kibbitzers e nudiks seria mais
apropriado”. A sequência é assim traduzida por Claudia
Berliner: “Que craques, que nada! Metidos a pentelhos seria
mais apropriado” (O instinto da linguagem, p. 481).
O que mais ouvi de colegas durante esses anos é que deve
ser difícil aguentar os comentários. É que todos sabem que
a língua talvez seja o único campo que a sociedade ainda
trata segundo critérios medievais: fundamentalmente,
seguem-se argumentos de autoridade de manuais que mal
se sustentam.
Mas eu insisto. E tenho uma espécie de sonho, bem
modesto: um dia, lendo meus textinhos, no blog ou em outro
lugar (nem vou informar onde mais publico periodicamente
– a convite, se querem saber), a reação será razoável, se
não puder ser racional. [...]
Já encontrei leitores de todos os tipos nesses longos anos:
os que acham a linguística o fim da picada, os que acham
que ela diz o óbvio, os que têm medo de suas teses, os que
não entendem do que se trata etc. E há os que consideram
os fatos, os argumentos e dizem que estão ou não estão
convencidos da importância das novidades, mas que suas
crenças estão um pouco abaladas.
Ultimamente, tenho me espantado com uma espécie de
cruzada contra meus textos, que nem eram lidos ou eram alvo de pequenos debates, e ora de alguma simpatia, ora
de antipatia, como é normal. Mas agora leio todas as
semanas uma bobagem enorme, de um “especialista” que
todas as semanas rotula meus textos de linguística
bolivariana, tratem eles do que tratarem.
Mas que bobagem! E tem uma chusma de apoiadores. Ora,
nunca houve mais de dez ou quinze leitores de meus textos.
Agora há uma milícia que repete a mesma frase todas as
semanas ou clica no sinal de apoio. Sou levado a crer que
meus escritos incomodaram alguém.
Ontem (dia 02/04) encontrei consolo na coluna de Tostão,
que se queixa de comentaristas e jornalistas esportivos que
querem que ele repita (e fornece uma lista) “… e outras
besteiras que ouço por aí”.
Não estou só. E vou em frente.
Releia o primeiro período do 9º parágrafo do texto: "Mas
que bobagem! E tem uma chusma de apoiadores. Ora,
nunca houve mais de dez ou quinze leitores de meus
textos. Agora há uma milícia que repete a mesma frase
todas as semanas ou clica no sinal de apoio“.
Analise as assertivas a seguir:
I. A palavra “ora”, empregada no trecho, pode ser
considerada homônima homógrafa da palavra “hora”.
Da mesma forma, também são homônimas
homógrafas as palavras “há” e “a”, ambas
empregadas no trecho.
II. A simples substituição da palavra “milícia” por
“batalhão” não alteraria a correção da oração.
III. O ponto de exclamação confere um tom de
indignação à frase em que ocorre, o que se confirma
em toda a sequência de ideias subsequentes no
trecho.
IV. O autor usa a palavra “chusma”, nesse trecho, em
sentido pejorativo e refere-se ao grande número de
pessoas que apoiam o especialista citado por ele no
parágrafo anterior (8º par.).
Assinale a alternativa que contenha análise correta das
assertivas acima: